sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Glíglicagem


Cortázar é um de meus autores prediletos. Um exemplar de escritor Filhodeumaputa que me despenca o queixo à cada linha, à cada paragrafo, à cada dialogo transposto. Resumindo: Sou mais um raro fã de suas obras.
Em todos os livros de sua autoria - desde "Rayuela", pioneiro do psicodelismo-surreal-sulamericano - , até "Valise de Cronópio" - uma jóia bruta dificil de deglutir, de entender e de explicar - Cortázar nos interroga insolentemente sobre as coisas mundanas da vida, ele evoca o acaso, as possibilidades multiplas, transforma cada enredo em sua própria chave mestra, hipnotizando-nos, enquanto nos lança uma piscadela cumplice.
Exceção essa minha postagem; sempre mostrei-me avesso às verticais linhas do frontispício de cada livro, mas Cortázar merece tal desprendimento de minha parte. "Rayuela", sua obra prima, nem parece um livro escrito; tá mais para um caleidoscópio visual e arrebatador, tanto pelas passagens bem construídas e quase casuais, ou até mesmo pela surrealidade de alguns trechos, como o Glíglico, uma espécie de dialeto alternativo por ele idealizado, que supreende até mesmo a própria linguagem.
Em um dos capítulos mais interessantes de "Rayuela", Cortázar descreve um ato carnal entre Oliveira (o protagonista) e sua companheira, Lucía... Porém, ele redigira a situação, da primeira à ultima linha, em Glíglico. Leia e entenda (ou pelo menos, tente entender):


"Enquanto ele lhe amalava o noema, ela lhe dava com o clêmiso e ambos caíam em hidromurias, em abanios selvagens, em sústalos exasperantes. De cada vez que procurava relamar as incopelusas, ele emaranhava-se num grimado queixoso e tinha de envulsionar-se de cara para o nóvalo, sentindo como se, pouco a pouco, as arnilhas se espechunassem, se fossem apeltronando, reduplimindo, até ficar estendido como o trimalciato de ergomanina no qual se tivesse deixado cair umas filulas de cariacôncia. E, apesar disso, aquilo era apenas o principio, pois, em dado momento, ela tordulava-se os hurgálios, consentindo que ele aproximasse suavemente os seus orfelunios. Logo que se enteplumavam, algo como um ulucórdio os encrestoriava, os extrajustava e paramovia, dando-se, de repente, o clinón, a esterfurosa convulcante das mátricas, a jadeolante embocapluvia do órgumio, os esprêmios do merpasmo numa sobremítica agopausa. Evohé! Evohé! Volposados na crista do murélio, sentiam-se balparamar, perlinos e marulos. Tremia o troque, as marioplumas era vencidas, e tudo se resolvirava num profundo pínice, em niolamas argutendidas gasas, em carínias quase cruéis que os ordopenavam até ao limite das gunfias."

Recomendado.

Nenhum comentário: